Imagem: MART PRODUCTION na Pexels.
No cenário mediático atual, é inegável que as notícias negativas dominam as manchetes e atraem os holofotes. Tragédias, crimes, desastres naturais, fofocas e crises políticas têm mais espaço do que histórias positivas e inspiradoras. Esse fenómeno levanta uma questão intrigante: por que o negativo e o medo são tão explorados no jornalismo, e que impactos isso tem na sociedade?
O Apelo do Negativo
Estudos em psicologia mostram que os seres humanos possuem um viés de negatividade, ou seja, tendem a prestar mais atenção a eventos ou informações negativas do que positivas. Isso pode ser uma herança evolutiva: nos ossos ancestrais precisavam estar alertas a ameaças para garantir a sobrevivência. No mundo moderno, esse viés continua a influenciar os nossos comportamentos, especialmente no consumo de mídia.
Os profissionais de jornalismo e os meios de comunicação reconhecem esse padrão e o exploram para maximizar audiências. Histórias carregadas de emoções fortes, como medo, raiva ou tristeza, geram mais cliques, partilhas e conexão. Essas métricas são fundamentais no modelo de negócio de muitas organizações, especialmente em tempos de crescente competição por atenção.
O Papel do Medo na Formação da Opinião Pública
O medo é uma ferramenta poderosa no jornalismo. Ele não apenas chama a atenção, mas também molda opiniões e comportamentos. Quando as notícias reforçam sentimentos de insegurança, as pessoas podem tornar-se mais suscetíveis a mensagens simplistas, polarização política ou soluções radicais. Em muitos casos, o medo é usado para reforçar narrativas que favorecem interesses específicos, seja para aumentar a influência de determinados grupos, seja para justificar políticas ou produtos.
Essa abordagem, porém, tem um custo elevado. Ao destacar continuamente os aspetos negativos da realidade, o jornalismo pode amplificar sentimentos de desesperança, ansiedade e desconfiança. A longo prazo, isso pode levar à apatia coletiva ou à incapacidade de dedicação a soluções construtivas para problemas reais.
O Espaço para Notícias Positivas
Embora as notícias negativas atraiam mais audiência, há uma demanda crescente por conteúdo positivo. Movimentos como o journalism of solutions (jornalismo de soluções) têm ganhado força ao propor uma abordagem que não ignora os problemas, mas os analisa com um foco em soluções, iniciativas inspiradoras e ações bem-sucedidas. Essa é uma tentativa de equilibrar o impacto das notícias negativas e trazer um pouco de esperança ao público.
Por outro lado, plataformas digitais independentes têm surgido para preencher esse espaço, partilhando histórias de inovação, bondade e superação. Esses projetos demonstram que existe um mercado para o positivo, embora ele não receba a mesma atenção da grande mídia.
O Caminho para um Jornalismo Mais Equilibrado
Para mudar essa dinâmica, é necessário repensar o modelo de negócios do jornalismo. Isso inclui:
- Educar o público: Incentivar os consumidores de mídia a reconhecerem o viés de negatividade e procurarem fontes diversificadas de informação.
- Diversificar métricas de sucesso: Priorizar indicadores que valorizem a qualidade e a profundidade das notícias, não apenas o número de cliques.
- Apoiar o jornalismo independente: Investir em plataformas que valorizem conteúdo positivo e construtivo.
Conclusão
O negativo e o medo são armas poderosas no arsenal do jornalismo, mas o uso excessivo dessas ferramentas tem consequências sérias para a saúde mental da sociedade e para a perceção da realidade. O desafio está em encontrar um equilíbrio que permita informar sem alimentar o cinismo, conectar sem explorar o medo e inspirar sem ignorar os problemas. O jornalismo, na sua essência, deve servir ao interesse público, e isso inclui oferecer uma visão mais ampla e equilibrada do mundo em que vivemos.
Consumir apenas notícias negativas alimenta a depressão que por sua vez gera mais consumo de mais conteúdos acerca de medo e negativismo... Um ciclo é criado. Por vezes temos que atuar no foco do problema e desligar a televisão quando percebemos que estamos demasiado conectados ao lado negativo da vida.